Não gosto de ligar a televisão, nem tão pouco ler o jornal e folhear más notícias. Hoje em dia só ouvimos falar de corrupção, escândalos, roubos, mortes e violações. Estou um pouco farto, confesso...
Estou farto de ouvir falar do processo Casa Pia e ler que, quem deveria estar interessado em acelerar o julgamento, só arranjam estratagemas para adiarem, tudo arranjando novas testemunhas para o tempo prescrever e ficar tudo por provar, não punindo quem merece ser punido.
Estou farto de ouvir falar da corrupção do futebol. Ainda continuam a ir aos estádios, alimentando uma actividade que é tudo menos desporto. Ainda ninguém se apercebeu de que estão todos a ser enganados com jogos fabricados, onde se sabe que os árbitros são combinados pelos poderosos mas que afinal, a justiça portuguesa não consegue provar que as escutas são legais. Mas as escutas estão disponíveis para todos ouvirem. Existem, mas não são prova.
Estou farto de ouvir sobre desemprego, num mundo onde se despede quase a bel-prazer, dizendo apenas que a empresa entrou em processo de falência para os patrões encherem os bolsos e as suas contas bancárias. E os desempregados que preferem estar em casa do que estarem a trabalhar a receber menos... A Segurança Social que pague as contas.
Estou farto de ouvir falar de 'desfavorecidos' que recebem vários subsídios sem os merecer. Não trabalham, recebem para não trabalharem, recebem para terem filhos e recebem casas a custo insignificante. A justiça não os pune, embora todos saibamos que vivem no mundo do crime e da vigarice. Quem realmente merece são uma pequena parte e quem trabalhou uma vida têm reformas de miséria.
Estou farto de ouvir falar de políticos corruptos e de gestores que ganham salários, subsídios e divisões de lucros de valores astronómicos. Trabalha-se 8 anos no Parlamento e obtém-se uma reforma por inteiro; somos amigos de alguém importante e temos a nossa sorte traçada; temos a mesma cor política dos poderosos e as oportunidades caem-nos aos pés. Os políticos, os que mandam no país, que eram para dar o exemplo, são precisamente os que acumulam reformas, benesses e outras tretas que todos repudiamos. Off-shores? É melhor ficar na mesma porque são jeito...
Estou farto de ouvir falar em instabilidade financeira, aumento de impostos e descida de poder de compra. Parece estranho, mas são sempre os mesmos que ficam com menos poder de compra e os mesmos que andam de Mercedes, Ferraris e afins. Com tanta crise pelo mundo e ouvimos falar dos grandes lucros dos bancos e das importâncias que os banqueiros recebem. Estranho falar-se de crise e ver certos carros que circulam e certas casas cujos valores astronómicos não são obstáculo a que sejam vendidas.
Estou farto de ouvir falar da avaliação de professores e da Ministra que vá para a rua. E a avaliação dos alunos? Essa sim, é que é cada vez mais ignorada. Basta passarem todos os alunos porque têm ordem do Ministério. E os pais que culpam os professores pelo insucesso escolar dos filhos? Não serão eles que terão a principal culpa por isso?
Estou farto de tanta coisa que não compreendemos... Face Oculta, Freeport e outras vigarices que são encobertas pelos próprios poderosos, já para não falar dos magistrados que, afinal, são eles que mandam no país, encobrindo-se uns aos outros... Será tão difícil pôr um país tão pequeno na ordem?
Resta-me a música. Pego na guitarra e simplesmente toco. Oiço um cd e simplesmente delicio-me. Vou a um concerto e simplesmente entro em êxtase. Tudo sem maldade, sem corrupção e sem segundas intenções. Ali só interessa a música de cada instrumento. O que importa é o talento de cada músico e a arte de misturarem sonoridades. Fazem-no pelo dinheiro, obviamente. O dinheiro é o que permite termos os bens materiais que desejarmos. Mas não é apenas isso, é o prazer de tocar um instrumento, é o prazer de se integrar numa banda. É a maravilhosa sensação de agradarmos quem nos ouve, de sermos músicos virtuosos e de se fazer parte da vida das pessoas. A música está em todas as etapas das nossas vidas. Lembramos,com alguma nostalgia, as músicas que ouvíamos quando éramos crianças, quando éramos adolescentes e suspirávamos por quem gostávamos. Associamos sempre algo da nossa vida a algumas músicas.
Isto é algo que me agrada. Oiço música e esqueço a política, toco guitarra e entro noutro mundo. É algo que me preenche o dia-a-dia. Estudo música porque quero e porque gosto. Estudo música porque a amo.